Tocando a esplendorosa canção erudita, a flauta parece gracejar. Um sorriso de um brilho obnubilado, prateado, impolido nos revela um mistério. A flauta e seus sons agradáveis me lembram do amado que um dia partiu. Virou flauta doce, como no mito de Pã. E não foi por intermédio das ninfas que o transformaram em bambu, mas por seu orgulho e covardia por não saber viver. Parecia Arcadiano, arredio. O amado sucumbiu deixando para trás o herdeiro de Almatéia. Sento-me no chão gelado, te ponho em minhas mãos, depois entre os lábios ressecados pela ventania e as notas musicais me fazem orações e planos. A música é seu sussurro guardado na lembrança do dia em que me destes a constelação de capricórnio e eu te fiz meu. Ó homem que agora estás sob as nuvens, que mais nada teme e que nada mais vê, arrebata-te dos meus sopros, vire música, um solo traquejado e seja sempre meu. Ó homem covarde que nada mais vê, celebra o mal que me fizeste com um soneto e uma canção. Já não suporto a solidão, nem a música. Amargam! Teu gosto e tuas lembranças me amarguram, tirastes a própria vida e levaste consigo metade de mim. O que me resta de um lado: o vazio, do outro: o som, do tiro e das notas doces que sopram da tua amarga flauta.
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