Então havia esse garoto que tinha um olhar de profundo desprezo para a maioria das coisas que, dada a época, tinham lá sua importância para determinadas camadas sociais. Esse mesmo olhar era dirigido, sobretudo, aos assuntos referentes ao que até então se conhece por um sentimento inominável. Considerando-se as condições visíveis do rapaz, a conveniência de relacionamentos curtos e infrutíferos fluía de maneira cômoda e, à primeira vista, invejável. A projeção de um reino de perfeição, que sobrepujava a todos que o cercavam como abelhas ao redor de uma flor mais colorida que perfumada, era como uma blindagem intransponível para tudo o que era de seu conhecimento. Até que o destino interveio. Avassalador como uma tempestade, um conjunto de todas as características subversivas — pelas quais um crescente interesse negligenciado aguardava em letargia no interior do garoto — surgiu do lugar menos esperado e, fazendo com que seus neurônios se digladiassem abrasadoramente, acossou-o o ego com o terrível dilema de escolher entre renegar a escultura de cristal que fizera de si próprio e descobrir, com frustrante resignação, que as coisas que mais temia e negava eram uma verdade cruel e aterradora.
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