sábado, 30 de julho de 2011

Algo Com Quatro Letras (por Oaken)



...Se bem que eu não me apaixonei por alguém que me deixava com borboletas no estômago, mas por quem as afugentou! Eu realmente gostava de quando ficava ouvindo o telefone chamando antes de ouvir a voz; gostava até mesmo do nervosismo que me dava só de discar o número da pessoa. No Messenger, eu me obrigava a escolher cuidadosamente as palavras, e quando finalmente apertava enter, tinha que esperar uma eternidade pela resposta. Esse tipo de coisa fazia com que eu não me sentisse nem um pouco especial.
Odeio admitir que eu não estivesse sendo excitante, principalmente por aquela ser a primeira vez que eu não conquistei alguém que me interessava. Não importava o que eu tentasse.
No caminho para os nossos encontros, eu sempre ficava inseguro com as minhas roupas, com meu cabelo, com meu perfume ou com quanto dinheiro eu estava levando. Coisas que, para uma pessoa normal, estariam ótimas. Mas aos meus olhos, até mesmo tudo não era o bastante. É claro que, ao contrário de mim, o menor e mais sutil gesto em resposta parecia artisticamente perfeito, me fazendo sentir como se eu estivesse em um filme romântico. E apenas isso já fazia valer à pena todos os meus esforços para estar ali, com a pessoa que era tudo o que eu queria.
Eu não tinha consciência, até nós terminarmos, de quanto aquela indiferença significava para mim. As palavras inconsequentes que eu costumava ouvir e toda a melancolia que preenchia meus dias sozinho em casa — esperando inutilmente o meu telefone tocar ou algum update online — tinham um significado muito mais profundo do que aparentavam. Não é que eu tenha me apaixonado por alguém que não gostasse de mim, mas eu estava completamente viciado no desafio que ter uma pessoa aparentemente inalcançável representava. E eu receio que perder isso possa ter o significado ambíguo de ser tanto um game over quanto um indício de que...
...Eu sempre vou querer mais.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Despertar De Um Sonho (por Oaken)



Então havia esse garoto que tinha um olhar de profundo desprezo para a maioria das coisas que, dada a época, tinham lá sua importância para determinadas camadas sociais. Esse mesmo olhar era dirigido, sobretudo, aos assuntos referentes ao que até então se conhece por um sentimento inominável. Considerando-se as condições visíveis do rapaz, a conveniência de relacionamentos curtos e infrutíferos fluía de maneira cômoda e, à primeira vista, invejável. A projeção de um reino de perfeição, que sobrepujava a todos que o cercavam como abelhas ao redor de uma flor mais colorida que perfumada, era como uma blindagem intransponível para tudo o que era de seu conhecimento. Até que o destino interveio. Avassalador como uma tempestade, um conjunto de todas as características subversivas — pelas quais um crescente interesse negligenciado aguardava em letargia no interior do garoto — surgiu do lugar menos esperado e, fazendo com que seus neurônios se digladiassem abrasadoramente, acossou-o o ego com o terrível dilema de escolher entre renegar a escultura de cristal que fizera de si próprio e descobrir, com frustrante resignação, que as coisas que mais temia e negava eram uma verdade cruel e aterradora.

A Flauta Amarga (por M. Corydon)




Tocando a esplendorosa canção erudita, a flauta parece gracejar.  Um sorriso de um brilho obnubilado, prateado, impolido nos revela um mistério. A flauta e seus sons agradáveis me lembram do amado que um dia partiu. Virou flauta doce, como no mito de Pã. E não foi por intermédio das ninfas que o transformaram em bambu, mas por seu orgulho e covardia por não saber viver. Parecia Arcadiano, arredio. O amado sucumbiu deixando para trás o herdeiro de Almatéia. Sento-me no chão gelado, te ponho em minhas mãos, depois entre os lábios ressecados pela ventania e as notas musicais me fazem orações e planos. A música é seu sussurro guardado na lembrança do dia em que me destes a constelação de capricórnio e eu te fiz meu. Ó homem que agora estás sob as nuvens, que mais nada teme e que nada mais vê, arrebata-te dos meus sopros, vire música, um solo traquejado e seja sempre meu. Ó homem covarde que nada mais vê, celebra o mal que me fizeste com um soneto e uma canção. Já não suporto a solidão, nem a música. Amargam! Teu gosto e tuas lembranças me amarguram, tirastes a própria vida e levaste consigo metade de mim. O que me resta de um lado: o vazio, do outro: o som, do tiro e das notas doces que sopram da tua amarga flauta.
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